Blog alimentado pelo Prof. Márcio Santos e dedicado a estudantes de Geologia.

domingo, 29 de novembro de 2020

SOLO - GEOQUÍMICA E MEIO AMBIENTE

 

Solo – Geoquímica e Meio Ambiente

Artigo de Carlos A. de Medeiros Filho

solo contaminado

https://www.mediotejo.net/empresas-ambientais-querem-que-governo-avance-com-lei-de-solos-contaminados/

[EcoDebate]

O perfil de solo pode ter suas características geoquímicas influenciadas por atuações antrópicas e, consequentemente, pode se constituir em importante marcador de condições ambientais.

Diversos metais pesados e contaminantes orgânicos podem ser incorporados ao solo por meio de fertilizantes e pesticidas; emissões de veículos a motor, atividades industriais, lixos e águas servidas das fossas e sumidouros.

Ban Ki-moon, diplomata e político sul-coreano, foi o oitavo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, de 2007 até 2017. No dia o Dia Mundial do Solo de 2014, comemorado em 5 de dezembro, Ban Ki-moon transmitiu uma mensagem que reporta aspectos da importância dos solos para a humanidade.

Ele afirma que: sem solos saudáveis, a vida na Terra seria insustentável. Os solos são a base da agricultura. Eles fornecem aspectos vitais para o ecossistema e a base para alimentos, rações, combustíveis, fibras e produtos medicinais importantes para o bem-estar humano. O solo também é o maior armazenador de carbono orgânico, que é essencial para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Em uma época de escassez de água, os solos são fundamentais para a sua adequada estocagem e distribuição. A degradação do solo, no entanto, é um problema que cresce rapidamente em todas as partes do mundo. Cerca de 33 por cento dos solos globais já são degradados através da urbanização. A erosão do solo, esgotamento de nutrientes, salinidade, acidificação e contaminação são ameaças adicionais. Por muito tempo, o mundo aceitou o solo como algo garantido. Mas o solo é um recurso natural que não é facilmente renovado. Gestão sustentável do solo deve ser uma prioridade para todos. Mais adiante, o diplomata sul-coreano conclui: Uma vida saudável não é possível sem solos saudáveis (1).

A avaliação e o monitoramento da qualidade do solo representam uma questão fundamental para a política e gestão dos recursos ambientais. A qualidade do solo, entre muitas outras funções, é altamente relevante para a capacidade de fornecer serviços ecossistêmicos essenciais para os seres humanos, como a conservação da produtividade vegetal e animal e o fornecimento de alimentos e rações saudáveis. Este é um tópico importante para os formuladores de políticas que têm a responsabilidade de preservar a qualidade do solo e implementar medidas para remediar os solos poluídos. Elementos potencialmente tóxicos (EPT), sejam de origem geogênica ou antropogênica, podem constituir um risco à saúde humana e aos ecossistemas (2).

Estudos geoquímicos nas regiões urbanas e rurais podem fornecer conclusões gerais para a conservação da natureza e proteção do solo e estimativas de impacto ambiental. Somente considerando as características de toda uma região, com a multiplicidade de influências sobrepostas de várias fontes, é possível derivar métodos para estimar os perigos da complexa interação de fatores e determinar a sensibilidade dos sítios aos diferentes usos da terra (3).

Equilibrar o delicado ciclo geoquímico do solo no ambiente rural e urbano é um exercício desafiador. A geoquímica, como disciplina científica, tem proporcionado um conhecimento valioso sobre a mobilização, dispersão, deposição e distribuição de metais potencialmente tóxicos. O monitoramento sistemático e temporal da geoquímica dos solos, especialmente das concentrações de EPTs, permite construir um cenário consistente sobre os comportamentos e mudanças na qualidade do solo devido às atividades humanas, incluindo alterações no uso do solo e mudanças climáticas.

Referências Bibliográficas

1- Journal of Geochemical Exploration 154 (2015) 1 – 5.

2- Beonea, G.M.; Carinia, F.; Guidottia, L.; Rossib, R.; Gattia, M.; Fontanellaa, M.C.; Cenci, R.M. 2018. Potentially toxic elements in agricultural soils from the Lombardia region of northern Italy. Journal of Geochemical Exploration 190, 436–452.

3- Birke, M and Rauch, U.: 1994, Geochemical investigations in the urban areas of Berlin, Mineral Magazine 58A, 95–96, London (Mineralogical Society).

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/11/2020

domingo, 30 de agosto de 2020

CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS PELA MINERAÇÃO

 Notas sobre Contaminação de Águas por Trabalhos Mineiros. Exemplo de Diagnóstico por Zonas de Amostragem

Artigo de Carlos A. de Medeiros Filho

[EcoDebate] As operações de mineração, de tratamento e concentração de minérios e descarte de rejeitos fornecem fontes óbvias de contaminação no ambiente da superfície, combinada às águas residuais das minas e dos moinhos (Adriano, 1986). Os rejeitos de minas são fontes de elementos potencialmente tóxicos, maiores e traços, para o ambiente da superfície da Terra.

A oxidação de sulfetos pode introduzir altas concentrações de metais, ácido sulfúrico (íons hidrogênio) e íons sulfato na água das descargas de minas (Fuge et al., 1993). A geração de drenagem ácida e a liberação de água contendo altas concentrações de metais dissolvidos a partir de resíduos de minas são um problema ambiental de escala internacional (Blowes et al., 2003), podendo ser responsáveis pela poluição e degradação das águas subterrâneas, córregos, rios e bacias.

Os metais pesados e os elementos traços são uma grande preocupação devido à sua natureza persistente e bioacumulativa e podem representar um risco potencial à saúde dos residentes nas proximidades das áreas de mineração (Myung, 2001).

Abraham & Susan (2017) estudaram a contaminação de água por elementos maiores e traços da Mina de Cu de Kilembe (W-Uganda), procurando avaliar as fontes e concentrações desses elementos na bacia hidrográfica de Kilembe, que no seu percurso cruza a zona de influência do depósito e dos materiais das antigas operações da mina. Amostragem de água dos rios foram desenvolvidas entre junho e setembro de 2014, com análise por ICP-MS.

A mina Kilembe está localizada a 10 km a oeste da cidade de Kasese, nas encostas da montanha Rwenzori, no oeste de Uganda. A mineração e o processamento de cobre em Kilembe, de 1956 a 1982, deixaram mais de 15 Mt de pirita cuprífera e cobaltífera despejada ao longo do vale do rio (Abraham & Susan, 2017)

A mina Kilembe está localizada a 10 km a oeste da cidade de Kasese, nas encostas da montanha Rwenzori, no oeste de Uganda

Fonte: Abraham & Susan (2017)

A área estudada abrangeu o vale de Kilembe, dividida pelo rio Nyamwamba, que se origina na cordilheira de Rwenzori. Na figura 1, a região amostrada pode ser dividida em três zonas: Zona 1 no curso superior do Rio Nyamwamba antes de atingir a mina de Kilembe, Zona 2 abrange a mina de Kilembe e os locais de rejeitos e Zona 3 a jusante da mina e dos depósitos de rejeitos.

Resultados geoquímicos da pesquisa de Abraham & Susan (2017) foram tratados a partir dos teores médios de águas de rios em quatro setores da bacia hidrográfica. Dois setores (Montante Mina e Tributários) correspondem a amostragens em tributários do Rio Nyamwamba ou a montante da antiga mina. Os resultados dessas duas zonas, portanto, não estariam afetadas pelos trabalhos mineiros. Os outros dois setores (Mina Kilembe e Jusante Mina) correspondem a amostras ao longo ou a jusante da mina e, consequentemente, podendo ter sido contaminadas pelos trabalhos e rejeitos mineiros.

A figura 2 indica, claramente, aumentos dos teores médios de Co, Cu, Ni e Zn nos setores “Mina Kilembe” e “Jusante Mina”.

Figura 2

A figura 2 indica, claramente, aumentos dos teores médios de Co, Cu, Ni e Zn nos setores “Mina Kilembe” e “Jusante Mina”. Esses comportamentos assinalam, portanto, contaminações desses metais tóxicos nas águas, causados principalmente por: (i) metais pesados provenientes de águas anômalas lixiviadas da mina (ii) oxidação e liberação de metais pesados e elementos traços derivados de pilhas de rejeitos. Abraham & Susan (2017) relatam que Co apresentaram os teores acima dos limites de água potável de Wisconsin (EUA) de 40 mg/L em 53% das amostras do rio Nyamwamba.

A figura 3 apresenta os teores médios de As, Pb, Al e Fe. Para arsênio, observa-se um aumento no setor de influência da mina (“Mina Kilembe”)

Figura 3

A figura 3 apresenta os teores médios de As, Pb, Al e Fe. Para arsênio, observa-se um aumento no setor de influência da mina (“Mina Kilembe”), indicando uma anomalia ou contaminação localizada e não extensiva. Por outro lado, as distribuições dos teores médios de Pb, Al e Fe não mostram uma relação direta de aumento nos setores influenciados pelos trabalhos mineiros, sendo que alumínio apresenta média mais alta à montante da mina. As mineralizações de Cu-Co de Kilembe não estão associadas ou enriquecidos com Pb, Al e Fe e, consequentemente, esses elementos mostram um comportamento geoquímico similar ao background regional.

Essas notas, em síntese, procuram discutir a importância do estudo geoquímico multielementar no entorno de sítios mineiros ativos ou abandonados, por ser eles fontes óbvias de contaminação de metais tóxicos no ambiente da superfície. Busca, também, dar um exemplo da positiva aplicação do diagnóstico ambiental a partir de um método de amostragem de distintas zonas geoquímicas, no sítio mineiro e seu entorno.

Referências Bibliográficas

Abraham, M.R.; Susan,T.B. 2017. Water contamination with heavy metals and trace elements from Kilembe copper mine and tailing sites in Western Uganda; implications for domestic water quality / Chemosphere 169 (2017) 281-287

Adriano, D.C., 1986. Trace Elements in the Terrestrial Environment. Springer-Verlag, New York.

Blowes, D.W.; Ptacek, C.J.; Jambor, J.L.; Weisener, C.G. 2003. The Geochemistry of Acid Mine. Treatise on Geochemistry. Elsevier Ltd. Pp. 149 – 204.

Fuge, R.; Pearce, F.M.; Pearkins, W.T. 1993. Geochemistry of Cd in the secondary environment near abandoned metalliferous mines. Wales. Appl. Geochem. Suppl. 2, 29-35

Myung, C.J., 2001. Heavy metal contamination of soils and waters in and around the Imcheon Au-Ag mine, Korea. Appl. Geochem. 16, 1369 – 1375.

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/08/2020

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sexta-feira, 28 de agosto de 2020

EFEITOS DE IMPACTO NA SÍLICA

 

Estudo pode ter revelado o que acontece com a sílica após impactos espaciais

Por Danielle Cassita | 27 de Agosto de 2020 às 17h18


Pesquisadores liderados por Sally June Tracy, da Carnegie Institution, desenvolveram um estudo para entender, afinal, que tipo de efeito os minerais terrestres podem sofrer após o impacto de um objeto espacial, além do que isso pode nos ensinar sobre os minerais que existem nas condições extremas do interior do nosso planeta. Os resultados foram publicados no periódico Science Advances.

A pesquisa foi feita junto de pesquisadores da Universidade Estadual de Washington e Princeton, que utilizaram uma pistola de gás para disparos de projéteis em altíssimas velocidades em amostras de quartzo, que contém sílica. Depois, o time utilizou instrumentos especiais de raios-X para analisar a estrutura cristalina do material que se forma a menos de um milionésimo de segundo depois do impacto. Assim, eles recriaram um cenário próximo do que aconteceria durante o impacto de um asteroide.

Imagem de raio-X que mostra a nova forma de sílica (Imagem: Sally June Tracy, Stefan Turneaure e Thomas Duffy)

O experimento realizado por Tracy e sua equipe demonstrou que, ao contrário do que se espera que aconteça após um choque extremamente maior do que a pressão atmosférica normal, o quartzo sofre uma transição para uma nova fase cristalina desordenada, cuja estrutura é um meio-termo entre o mineral stishovita, que tem aparência totalmente cristalina, e o vidro. Entretanto, a nova estrutura não resiste depois que a pressão intensa é aliviada.

O quartzo é um mineral formado por um átomo de sílica e dois de oxigênio, elementos que também são comuns no manto da Terra — que, por sinal, é riquíssimo em sílica. Por isso, entender como funcionam e quais são as mudanças que este mineral pode sofrer em condições de alta pressão e temperatura pode revelar detalhes sobre o passado geológico do nosso planeta.

Obtido em: https://canaltech.com.br/ciencia/estudo-pode-ter-revelado-o-que-acontece-com-a-silica-apos-impactos-espaciais-170664/

Entretanto, mesmo após longos anos de pesquisa, os cientistas ainda não haviam chegado a um consenso sobre a forma que a sílica teria depois de sofrer um grande impacto ou condições de pressão como aquelas do estudo. "Os experimentos de compressão dinâmica nos permitiram encerrar esse longo debate", concluiu Tracy. Os benefícios do estudo vão além, pois os impactos são essenciais para entendermos mais sobre os processos de formação planetária e sua evolução — o que deverá ser melhor aprofundado em outras pesquisas.

Fonte: Carnegie Institution for Science

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

SEDIMENTOS DE CORRENTE EM GEOQUÍMICA AMBIENTAL

Notas sobre uso de sedimentos de corrente na geoquímica ambiental, artigo de Carlos Augusto de Medeiros Filho

 

[EcoDebate] Os sedimentos da corrente (ou sedimentos de fundo do rio) são derivados da erosão e transporte de detritos do solo, de rochas e outros materiais dentro da bacia hidrográfica. A análise química de uma amostra de sedimentos de rio é, portanto, representativa da geoquímica de materiais à montante do local da amostragem.

Foz do Rio do Baldo, década de 70’

Foz do Rio do Baldo, década de 70’. (fonte: Elmo Marinho)

 

Levantamento e análise de sedimentos de corrente (ou sedimentos de fundo de rios) é uma técnica geoquímica usada historicamente na exploração mineral na fase regional e, mais recentemente e de maneira crescente, na pesquisa ambiental.

Nessa técnica de pesquisa, elementos químicos são medidos a partir de sedimentos de rios, córregos ou igarapés. O sedimento depositado em leito de rios pode ser considerado como o resultado da integração dos processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem em um ambiente aquático. Esteves (1998) relata que os sedimentos de corrente podem ser divididos em duas camadas: a recente e a permanente. A camada recente corresponde a camada com maior concentração de matéria orgânica, é a camada mais superficial, a que está em contato direto com a água. E a camada permanente logo abaixo da camada recente é caracterizada pelo baixo teor de matéria orgânica e por apresentar-se em condições anaeróbias de existência.

Dessa forma, uma amostragem ao longo do perfil dos sedimentos no leito do rio pode historiar as condições geoquímicas daquele ambiente. Resultados homogêneos podem indicar um ambiente dominado por fatores unicamente geogênicos, enquanto que variações podem indicar atuações antropogênicas.

Existe, na maioria dos casos, uma relação nos resultados geoquímicos dos sedimentos com as águas de um mesmo rio. As amostras de fundo do rio, entretanto, são mais fáceis de coletar, transportar e armazenar do que amostras de água, inclusive sofrendo muito menos influência da sazonalidade anual.

Nas águas de rios, grande parte dos metais traços costumam estar associada ao material particulado. Consequentemente, os metais transportados por riachos são eventualmente depositados em leitos, várzeas como sedimentos de corrente (Kuusisto-Hjort, P. & Hjort, 2013). Os sedimentos de fundo do rio são, portanto, um consistente meio amostral para rastrear fontes de metal e, por isso, têm sido cada vez mais empregados na avaliação da contaminação de sistemas fluviais tanto nas áreas urbanas, como rurais.

Dessa forma, as amostras de sedimentos de corrente caracterizam todos os processos que ocorrem no ecossistema aquático à montante e podem contribuir na avaliação do cenário ambiental da área, bem como na delimitação e interpretação de sítios contaminados por elementos tóxicos, para imediato detalhamento e monitoramento.

Referências Bibliográficas

Esteves, F. A. 1998. Fundamentos de Limnologia. Rio de Janeiro: FINEP.

Kuusisto-Hjort, P.; Hjort, J. 2013. Land use impacts on trace metal concentrations of suburban stream sediments in the Helsinki region, Finland. Science of the Total Environment 456–457; 222–230.

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/05/2020

[cite]

quinta-feira, 30 de julho de 2020

METAIS TÓXICOS NAS ÁGUAS

Importância da Geoquímica de Metais Tóxicos nas Águas Subterrâneas

Artigo de Carlos A. de Medeiros Filho

Águas Subterrâneas

Fonte https://achetudoeregiao.com.br/animais/quimica_da_agua.htm

[EcoDebate] As águas subterrâneas são essenciais para o sistema doméstico de abastecimento, fornecendo um recurso relativamente limpo, confiável e econômico. No entanto, alguns aquíferos podem não ter qualidade explorável adequada devido a fatores naturais ou pressões antropogênicas (Monjerezi et al., 2012). A contaminação por metais pesados nas águas subterrâneas é um problema sério em todo o mundo devido ao crescimento populacional e ao desenvolvimento econômico. Os processos naturais incluem intemperismo de rochas e solos, decomposição de matéria viva e precipitação atmosférica; enquanto que as atividades antropogênicas são provocadas, por exemplo, pela mineração e processamento mineral, resíduos domésticos, agrícolas, industriais, tráfego de automóveis, etc. (Wagh et al., 2018).

Na Região Metropolitana de Natal-RN (RMN), a contaminação das águas subterrâneas por nitrato está densamente discutida como, por exemplo, em Nóbrega et al, 2008; Rodrigues et al., 2019; Cabral et al., 2009; Stein et al., 2012; Melo, 1995; Bezerril, 2016. Estudos geoquímicos sobre comportamento de metais tóxicos em águas superficiais da RMN são reportados em Guedes, 2012; Guedes et al., 2005; Correa, 2008 e Lima, 2006. Por outro lado, pesquisas geoquímicas sobre metais traços em águas subterrâneas na RMB são ainda relativamente restritas (Bezerril, 2016; Melo, 1995; Figueiredo, 1991). A literatura científica abordando características e contaminações geoquímicas de metais traços em águas subterrâneas é, em todo mundo, vasta. Serão citados, a seguir, alguns artigos como exemplificações da variedade e importância desse assunto.

Monjerezi et al (2012) discutem a geoquímica de elementos menores no que diz respeito à salinidade de águas subterrâneas no vale do rio Shire (Malawi). A avaliação estatística dos dados (usando PCA e HCA), combinada com razões de íons maiores e menores e uma avaliação geoquímica conceitual da composição de elementos menores, indicou que as variações na salinidade foram responsáveis pela maior parte da variação nos níveis totais de Pb, B, Sr e Ba. As diretrizes da OMS para água potável para bário, boro, cromo e chumbo foram excedidas em 6,5%, 9,7%, 16,1% e 64,5% das amostras, respectivamente, ocorrendo principalmente nas amostras salobras. O estudo, portanto, mostra a possibilidade de poluição por elementos menores associados às áreas com água subterrânea salina / salobra.

Oyeku & Eludoyin (2010) estudaram o efeito do lixão nas águas subterrâneas nos países em desenvolvimento, especialmente na Nigéria. A infiltração de constituintes químicos no lixiviado formada, como consequência da contínua o descarte de resíduos municipais e industriais no aterro sanitário, demonstrou ser uma séria ameaça ao meio ambiente e à saúde humana. O descarte descontrolado de baterias de chumbo-ácido e produtos derivados de petróleo provavelmente causou os níveis relativamente altos de Pb, Cu e Fe encontrados nas águas subterrâneas. O estudo concluiu que as fontes de água subterrânea dentro de um raio de 2 km de um grande aterro sanitário estarão vulneráveis ao efeito do aterro, se não estiverem adequadamente protegidas.

Sako et al. (2018) efetuaram uma avaliação geoquímica abrangente dos solos e dos recursos hídricos em torno da mina de ouro de Tongon da Costa do Marfim. Os solos e as águas superficiais e, em menor grau, as águas subterrâneas estão seriamente contaminadas com uma série de metais pesados devido à sua proximidade com os resíduos das minas e uma possível descarga de resíduos domésticos e agrícolas não tratados nos cursos de água locais. As altas concentrações de As, Hg, Sb, Sr, Ni e W são diretamente derivadas das rochas mineralizadas, ricas em sulfetos e minerais carbonáceos, mobilizadas através da atividade de mineração.

Wagh et al. (2018) enfatizaram a abordagem integrada dos índices de poluição por metais pesados, juntamente com a análise estatística multivariada para avaliar o risco à saúde das águas subterrâneas da bacia do rio Kadava em Nashik, India. Os resultados analíticos mostraram que Pb e Ni excederam a concentração máxima permitida em todas as amostras; enquanto, Cr em amostras de 95% e Fe em 92,5% das amostras encontradas além dos limites de segurança. A avaliação da contaminação por metais pesados foi realizada usando o Índice de Poluição por Metais Pesados (IPH), Índice de Perigos (HI), Índice de Avaliação de Metais Pesados (IES) e Grau de Contaminação (Cd). Os tratamentos corroboram que altos teores de metais pesados nas águas subterrâneas da Bacia do Rio Kadava são devidos ao padrão de uso da terra, agricultura intensa, lixiviação de fertilizantes e pesticidas e resíduos domésticos no sistema aqüífero.

As referências bibliográficas sumarizadas procuraram dar uma ideia da variedade das situações ambientais e da importância da caracterização geoquímica das águas subterrâneas para o adequado uso no sistema doméstico de abastecimento de água nas áreas urbanas e rurais. As pesquisas geoquímicas podem, portanto, ajudar os planejadores e formuladores de políticas locais a prevenir o risco à saúde através da implementação de medidas apropriadas de monitoramento e mitigação para aqüíferos contaminados.

Referências Bibliográficas.

Bezerril, K.O. 2016. Problemas socioambientais: urbanização desordenada e consequências para a qualidade das águas subterrâneas de Poços localizados nas imediações do lixão de Cidade Nova em Natal/RN. Dissertação (mestrado) – UFRN. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia.

Cabral, N. T.; Righetto, A. M.; Queiroz, M. A. 2009. Comportamento do nitrato em poços do aquífero Dunas / Barreiras nas explotações Dunas e Planalto, Natal, RN, Brasil. Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 299-306.

Correa, T. de L. 2008. Impactos Geoquímicos e Socioambientais do Estuário do Rio Potengi – Região Metropolitana da Grande Natal/RN. Dissertação de Mestrado.

Figueiredo, E.M. 1991. Concentrações Anômalas de Metais Pesados nas Águas de alguns Poços de Natal. 36″ Congresso Brasileiro de Geologia, Natal, Anais 2: 807-815.

Guedes, J.A. 2012. Teores geoquímicos em sedimentos de fundo do rio Jundiaí, Macaíba/RN. Brazilian Geographical Journal: Geosciences and Humanities research medium, Uberlândia, v. 3, n.1, p. 70-79.

Guedes, J.A.; Souza, R.F.; Souza, L.C. 2005. Metais pesados em água do rio Jundiaí – Macaíba/RN. Revista de Geologia, Vol. 18, nº 2, 131-142.

Lima, L.F. 2006. Geoquímica de Sedimentos de Fundo dos Rios Trairi e Arari e da Laguna de Nísia Floresta (RN). UFRN. Dissertação de Mestrado.

Melo, J.G. 1995. Impactos de Desenvolvimento Urbano nas Águas Subterrâneas de Natal. Universidade de São Paulo. Instituto de Geociências. Tese de Doutoramento.

Monjerezi, M.; Vogt, R.D.; Gebru, A.G.; Saka, J.D.K.; Aagaard, P. 2012. Minor element geochemistry of groundwater from an area with prevailing saline groundwater in Chikhwawa, lower Shire valley (Malawi). Physics and Chemistry of the Earth 50–52 52–63.

Nóbrega, M. M. S.; Araújo, A. L. C.; Santos, J. P. Avaliação das concentrações de nitrato nas águas minerais produzidas na região da Grande Natal. Revista Holos. Vol. 3. 2008. 4-25 p.

Oyeku, O.T., Eludoyin, A.O. 2010. Heavy metal contamination of groundwater resources in a Nigerian urban settlement. African Journal of Environmental Science and Technology Vol. 4(4), pp. 201-214.

Rodrigues, M; Pereira, R.; Mayer, A.; Magalhães, D. R. M.; Fernandes Jr., J. R. 2009. A atual situação da contaminação por nitrato nos poços da cidade de Natal/RN: o caso das águas minerais. IV Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica. Belém – Pa.

Sako, A.; Semdé, S.; Wenmengab, U. 2018. Geochemical evaluation of soil, surface water and groundwater around the Tongon gold mining area, northern Côte d’Ivoire, West Africa. Journal of African Earth Sciences 145 (2018) 297–316.

Stein, P.; Diniz Filho, J.B.; Lucena, L.R.F.; Cabral, N.M.T. 2012. Qualidade das águas do aquífero Barreiras no setor sul de Natal e norte de Parnamirim, Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Brasileira de Geociências. 42(Suppl 1): 226-237.

Wagh, V.M.; Panaskar, D.B.; Mukate, S.V.; Gaikwad, S.K.; Muley, A.A.; Varade, A.M. 2018. Health risk assessment of heavy metal contamination in groundwater of Kadava River Basin, Nashik, India. Modeling Earth Systems and Environment

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/07/2020