Ligações químicas
Os átomos e íons se combinam para formar a matéria nos
estados sólido, líquido ou gasoso. A importância da ocupação das camadas mais
externas de elétrons pode ser exemplificada comparando-se a interação entre
dois átomos de hélio, em que dois elétrons ocupam o orbital 1s, com a interação
entre dois átomos de hidrogénio, cada um com apenas um elétron. Quando os dois
átomos de hélio se aproximam e suas nuvens eletrônicas de interpenetram, os
elétrons de um átomo não podem se acomodar no orbital do outro átomo, o que infringiria
o princípio da exclusão de Pauli. Assim sendo, eles saltam para o orbital 2s, o
que representa um custo energético e dificulta a formação dessas ligações. Por
outro lado, os dois átomos de hidrogénio podem compartilhar os elétrons is em
um mesmo orbital. A configuração eletrônica resultante é mais vantajosa que a
dos átomos de hidrogênio isolados e, portanto, a ligação química é favorecida.
Esta é a essência da teoria da valência de ligação de Pauling, que, entretanto,
não se consolidou por não explicar as propriedades espectroscópicas das
substâncias. Em contraste, a teoria do campo cristalino considera os cátions
como totalmente ionizados, tais como Na+ e Ca2+, os quais
são hospedados em sítios definidos por "ligantes" de carga negativa,
como ocorre na estrutura dos silicatos: a ligação é considerada como sendo
completamente eletrostática. Apesar de a teoria da valência explicar muitas das
propriedades dos elementos de transição, atualmente ela é considerada obsoleta.
O texto acima foi extraído de: ALBARÈDE, F. Geoquímica: uma introdução. São Paulo : Oficina de Textos, 2011.
Classificação geoquímica dos elementos
Para a formação da Terra aceita-se o modelo de sua
acreção, a partir de corpos menores de composição semelhante à de meteoritos
condríticos. Precisamos supor que, na fase inicial, separaram-se o núcleo e o
manto terrestre e, em seguida, no estado fundido, a Terra se solidificou e se
diferenciou, formando assim sua crosta Na realidade, o processo de
diferenciação é mais complexo para separação da parte silicática do manto e da crosta e a parte
metálica do núcleo, pois nosso planeta é um corpo dinâmico, e observamos, ainda
hoje, os processos de diferenciação que se manifestam na forma de vulcanismo,
ao contrário da Lua e do planeta Marte que se diferenciaram logo cedo em sua
formação e registraram isso nas idades de suas rochas mais antigas (certos
meteoritos são, possivelmente, oriundos de Marte, os SNC).
Comparando a Terra com os meteoritos, Goldschmidt
supôs a separação das fases metálica, sulfetada e silicática na condensação e
na diferenciação da Terra a partir de um estado de fusão. Baseado nessa
observação, ele classifica os elementos, que se distribuem nas referidas fases,
obedecendo a suas afinidades para com elas. Em seus estudos, ele analisou as
fases de liga Fe-NI, a troilita (FeS) e os silicatos dos meteoritos. Como seria
difícil testar essa hipótese, ele estudou a separação de elementos em processos
líquido-líquido na extração de cobre, a partir da fusão de ardósia de Mansfeld,
Alemanha. A extração de cobre resulta em uma escória silicatada, uma fase
metálica e uma fase sulfetada rica em Fe. As medidas de concentração dos
elementos nessas fases concordaram razoavelmente com as análises de meteoritos.
A classificação geoquímica dos elementos é baseada em
suas afinidades químicas para com as fases silicática, sulfetada e metálica, e
é, basicamente, consequência da configuração eletrõnica do elemento e,
consequentemente, de sua posição na tabela periódica. São agrupados em
siderófilos, calcófilos, litófilos e atmófilos. Essa classificação é genial, e
é notável que ainda sejam usados esses termos, introduzidos no início do século
XX, por Goldschmidt. Os conceitos e as linhas de pesquisas, introduzidas ou
simplesmente contempladas por ele, formam a base da geoquímica moderna. Assim,
podemos perceber nas palavras dele que "... as tarefas da geoquímica são
estabelecer em que concentrações os elementos ocorrem, e quais são os processos
que determinam seu enriquecimento local" Baseando-se nas afinidades, temos
os seguintes agrupamentos:
Obs.:
Na Tabela Periódica, assim se distribuem os elementos de acordo com a classificação de Goldschmidt:
O texto acima foi extraído e modificado de: CHOUDHURI, Asit. Geoquímica para graduação. Campinas : Editora da UNICAMP, 1997.
calcófilos e litófilos na crosta - " - calcófilo na crosta
- # - litófilo na crosta
( ) - pertencem mais que um grupo, ou afinidade secundária
Na Tabela Periódica, assim se distribuem os elementos de acordo com a classificação de Goldschmidt:
As regras de
Goldschmidt
Elementos que constituem as rochas e os minerais, principais
formadores de rochas e sua composição como um todo, são designados elementos
maiores Elementos de menor importância e de concentração menor que 0,1% (1.000
ppm) geralmente não formam minerais independentes mas são incorporados na
solução sólida dos minerais, em fundidos ou em fases fluídas. Esses
elementos-traço ocorrem, intersticialmente, como fases intergranulares ou como
impurezas no retículo cristalino de fases principais. Seu comportamento é
frequentemente diferente e sua distribuição (partição) entre as fases, por
exemplo, fase fundida e mineral coexistente, pode mudar sua concentração em
varias ordens de grandeza. Estas e outras questões sobre a distribuição dos
elementos foram contempladas, pela primeira vez, por Goldschmidt. Muitos dos
conceitos geoquímicos atuais derivam das conferências e dos trabalhos
publicados por Goldschmidt na década de 1930, como, por exemplo sua conferência
para o "Chemical Society" de Londres sobre os "Princípios da distribuição
dos elementos químicos em rochas e minerais". Ele chamou a atenção para a
ocorrência de elementos-traço (menos que 1.000 ppm) por substituição em retículos
cristalinos de elementos maiores ou principais.
Esses princípios, formalizados como regras, tiveram um
profundo efeito sobre a maneira de pensar em relação à petrologia e à
geoquímica, e seus conceitos como litófilo e calcófilo, bem como as regras
gerais para o comportamento dos elementos, que ainda são usadas. Ele sugeriu
também que análises quantitativas da distribuição de elementos entre rochas e
minerais, ou mesmo entre minerais, poderão formar uma base para classificar um
grupo de rochas na mesma suíte magmática. Desde suas formulações, as regras têm
sido confirmadas em sua validade geral para ligações essencialmente iônicas por
meio de investigações realizadas por diversos pesquisadores. As regras sofreram
pequenas modificações, mas sem perder sua importância para substituição de
elementos.
As regras gerais são as seguintes:
1ª Se dois bons têm o mesmo tamanho (raio) e a mesma carga,
eles entrarão no retículo cristalino com igual facilidade.
2ª Se dois bons têm raios similares e a mesma carga, o íon
menor entrará mais facilmente no retículo que o íon maior. Ê o que acontece,
por exemplo, nos minerais ferromagnesianos em relação ao Mg': (0,66 Ă) e ao
Fe': (0,74 Ă).
3ª Se dois íons têm raios similares e cargas diferentes, o
íon com a carga maior entrará mais prontamente no retículo. Exemplo: Ca': (0,99
Ă) e Na* (0,97 Ă) nos plagioclásios.
Para elementos menos importantes dentro da cristalização
magmática, existem as seguintes regras:
a) Camuflagem -- quando um elemento de maior importância
"camufla" um de menor importância com mesma carga e ralo simi/ar.
Exemplo:
Exemplo:
AI'3 (0,51 Ă) camufla o Ga'3 (0,62 Ă)
Zr'4 (0,79 Ă) camufla o Hf'4 (0,78 Ă)
Si*' (0,42 Ă) camufla o Ge« (0,53 Ă)
b) Captura - quando um elemento de maior importância
"captura" um outro de menor importância com carga maior ou raio
menor.
Exemplo:
Exemplo:
K+ (1,33 Â) captura Ba+2: (1,34 Â) e Sr+2:
(1,18 Ă)
c) Admissão - quando um elemento mais importante
"admite" um menos importante de menor carga e ralo similar ou de
mesma carga e raio maior. Exemplo
Mg+2: (0,66 À) admite o Li' (0,68 Ă)
Ca+2: (0,99 Ă) admite o Sr': (1,18 Ă)
As regras formuladas por Goldschmidt são um guia muito útil
para a distribuição dos elementos-traço, mas não são universalmente válidas,
pois se baseiam no pressuposto de que as ligações entre os elementos são iônicas,
enquanto não são exclusivamente iônicas, na maioria dos minerais. Ringwood
mostrou que a eletronegatividade de um elemento também influencia a
substituição de um elemento menor por outro de maior importância com tamanho
parecido. Quando essa substituição ocorre, os elementos de menor
eletronegatividade terão preferência pois formam ligações iônicas mais fortes.
Portanto, o comportamento dos cátions no magma depende do raio iônico, da
valência e do tipo de ligação.
O texto acima foi extraído e modificado de: CHOUDHURI, Asit. Geoquímica para graduação. Campinas : Editora da UNICAMP, 1997.
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