Magma nada mais é do que rocha em estado de fusão a altas temperaturas. A denominação deve-se à sua consistência pastosa, comparada à da massa do pão que em grego é magma.
1.
O que é o magma?
Podemos observar o magma quando ele extravasa na forma de
lava. Já quando o magma se aloja no interior da crosta, sua colocação e
consolidação não podem ser observados diretamente, e seu comportamento pode ser
deduzido apenas por meio das estruturas observadas em rochas ígneas intrusivas
quando expostas pelos processos geológicos, ou por métodos indiretos,
geofísicos.
Magmas apresentam altas temperaturas, entre 700 e 1 200 0C,
e são constituídos por 3 partes:
a) uma parte líquida, representada
pela rocha fundida;
b) uma parte sólida,
que corresponde a minerais já cristalizados e a fragmentos de rocha,
transportados em meio à fração líquida;
c) uma parte gasosa,
constituída por voláteis dissolvidos na parte líquida, predominantemente H2O
e CO2, além de CH4, SO4 e outros.
Esses componentes ocorrem em proporções variáveis, dependendo
da origem e estágio de cristalização dos magmas. A mobilidade de um magma se dá
em função de diversos parâmetros: composição química. grau de cristalinidade
(em que proporção o magma contêm material já cristalizado), teor de gases
dissolvidos e a temperatura em que se encontra. A maior ou menor facilidade de
fluir é definida pela viscosidade, medida em poises. Magmas pouco viscosos,
logo mais fluídos, como os basálticos (viscosidade aproximada: 102 a
103 poises), extravasam com facilidade e formam corridas de lava
como as do Havaí (figura 6.2), que podem estender se por dezenas de
quilômetros, ou da formação Serra Geral, na bacia do Paraná, cujos derrames
alcançam extensões de até centenas de quilômetros. Magmas mais viscosos, como
os graníticos ou riolíticos (viscosidade aproximada: 106 a 107
poises), têm dificuldade até mesmo para extravasar, formando frequentemente
"rolhas" que entopem os condutos vulcânicos, o que provoca aumento de
pressão por conta do magma e gases que vão se acumulando. Quando a pressão
interna supera o peso das rochas sobrejacentes, ou quando ocorre uma
descompressão súbita por causa de avalanches nos flancos do edifício vulcânico,
ocorrem explosões. A relação entre viscosidade e composição de magmas será
discutida mais adiante.
1.2 Onde e como se formam
os magmas?
Não é possível observar diretamente os processos de formação
de magmas: eles surgem a grandes profundidades, em locais inacessíveis até
mesmo para as perfurações mais profundas. Evidências sobre a geração de magmas
são fornecidas por dados geofísicos, principalmente sísmicos e geotérmicos, por
fragmentos de rocha transportados pelos magmas desde as suas regiões de origem
- os nódulos mantélicos (Figura 3), ou ainda por estudos de petrologia
experimental, que procuram reproduzir em laboratório as condições de formação
de magmas. Os magmas se originam por fusão parcial de rochas na astenosfera, ou
na parte inferior da litosfera (ver Capítulo 2). A fusão pode ser provocada
pelo aumento da temperatura, por alívio da pressão a que estas rochas estão
submetidas, por variações no teor de fluidos ou, mais provavelmente, por uma
combinação destes fatores. A figura 6.4 ilustra a fusão de rochas em sistemas
saturados em água e em sistemas anidros. As curvas solidus representam o início da fusão, quando então coexiste o
líquido gerado com a parte ainda não fundida da rocha geradora. À medida que o
processo de fusão avança, a proporção líquido/sólido aumenta, até que, em uma
situação ideal, todos os minerais da rocha geradora tenham sido fundidos. Nesse
ponto, o sistema ultrapassa a curva liquidus,
sendo constituído apenas da fase líquida. Ou seja, a temperaturas abaixo da
curva solidus, a rocha geradora
encontra-se inteiramente sólida; a temperaturas entre as curvas solidus e liquidus, coexistem, em proporções variáveis, líquido e rocha ainda
não completamente fundida; e a temperaturas acima da curva liquidus, passa a existir apenas a fase líquida, estando toda a
rocha fundida.
O magma, uma vez gerado, tende a deslocar-se em direção à
superfície, por apresentar densidade menor do que as rochas ao redor. O
deslocamento de um magma no interior da crosta é complexo e variado, em função
da sua viscosidade e da constituição e estruturação das rochas que atravessa.
Sempre que possível, magmas ascendem através de falhas e fraturas profundas.
Quando estas descontinuidades não ocorrem, formam-se bolsões de magma em forma
de gigantescas "gotas invertidas” ou “balões” chamados diápiros, com
vários quilômetros cúbicos, que se deslocam por fluxo plástico em meio às
rochas da crosta. O bolsão de magma força as rochas acima e ao redor, às vezes
quebrando-as e englobando seus fragmentos, conhecidos como xenólitos (Figura 6.5).
Outras vezes, à medida que o bolsão de magma ascende, vai fundindo as rochas
encaixantes. Quando há fusão e assimilação destas rochas, ocorrem modificações
na composição química do magma original, dependendo do tipo e da proporção das
rochas digeridas.
Em muitos casos, grandes volumes de magma “estacionam" a
determinadas profundidades, e fornecem material para manifestações vulcânicas
por dezenas de milhares a milhões de anos. Nestes casos, são denominados de
câmaras magmáticas, cuja presença e dimensões podem ser aferidas por estudos
geofísicos. Destes sítios, o magma é conduzido à superfície através dos
condutos vulcânicos, ou se consolida em profundidade, gerando as diversas
formas de ocorrência de rochas magmáticas. As etapas da viagem de magmas desde seus
sítios de geração na astenosfera ou nas partes profundas da litosfera até os sítios
de consolidação estão ilustradas, esquematicamente, na figura 6.6 adiante.
1.3 Composição dos
magmas
A composição de um magma depende de vários fatores:
a) da composição da
rocha geradora no local de origem;
b) das condições em
que ocorreu a fusão desta rocha e da taxa de fusão;
c) dos processos que
atuam sobre este magma do seu local de origem até o seu sítio de consolidação.
Magmas têm, majoritariamente, composição silicática, em
consonância com a composição predominante da crosta e do manto terrestre.
Porém, magmas carbonáticos e sulfetados, ainda que raros, também ocorrem. Em
outros planetas e seus satélites, também podem existir magmas de composições
muito diversas.
Os principais componentes dos magmas silicáticos na Terra
são, além de oxigênio (O) e silício (Si), o alumínio (AI), o cálcio (Ca), o
ferro (Fe), o magnésio (Mg), o sódio (Na), o potássio (K), o manganês (Mn), o
titânio (Ti) e o fósforo (P). A composição química de rochas e magmas é
indicada, por convenção, com os elementos constituintes apresentados na forma
de óxidos.
A variação composicional dos magmas, assim como das rochas
ígneas, é descrita principalmente por seu teor de sílica, que é a percentagem
em peso de SiO2. O espectro composicional dos magmas silicáticos é
muito amplo, e praticamente contínuo em termos do teor de sílica. No entanto,
dois tipos de magma se destacam pela sua abundância: o magma granítico ou riolítico,
com teores de sílica superiores a 66%, e o magma basáltico, com teores de
sílica entre 45% e 52%. Alguns pesquisadores acrescentam um terceiro tipo de
magma: o magma andesítico (teor de sílica entre 52% e 66 %), por sua freqüência
e ambiente de ocorrência na crosta. Em termos de volume, porém, magmas graníticos
e basálticos são preponderantes. Composições de rochas vulcânicas
representativas dos três tipos de magmas - respectivamente riolitos, andesitos
e basaltos - são apresentadas na tabela 6.1 e ilustradas na figura 6.7.
1.4 Qual a influência
da composição química sobre os magmas?
As características físicas dos magmas, como a temperatura e a
viscosidade, estão intrinsecamente relacionadas à sua composição: estas
relações encontram-se ilustradas na figura 6.8. Magmas basálticos apresentam
temperaturas da ordem de 1.000 a 1.200 ºC, têm baixo teor de voláteis (em torno
de 1 a 3% em peso) e possuem viscosidade baixa. Já os magmas graníticos são
significativamente mais viscosos, apresentam, de modo geral, teores mais
elevados de voláteis (entre 3% e 5%) e apresentam temperaturas da ordem de 700
a 800 'C. A viscosidade de um magma silicático aumenta com:
a) o aumento do teor
de sílica;
b) o abaixamento da
temperatura;
c) a diminuição do
conteúdo de voláteis.
Estas relações podem ser explicadas pelo comportamento das
unidades estruturais fundamentais [SiO4]-4 que existem
nos magmas. Estas unidades tem o formato de tetraedros, com um átomo de silício
no centro e quatro átomos de oxigênio nos vértices e tendem a unir-se em
estruturas progressivamente mais complexas à medida que a cristalização do
magma avança. Em magmas ricos em sílica, isto se dá já nas primeiras etapas da
consolidação, e em escala mais ampla, produzindo extensas cadeias de tetraedros
de Si-O que dificultam o fluxo do magma, aumentando sua viscosidade.
Já em magmas básicos, com teores de sílica menores, esse
processo só adquire importância nas etapas mais avançadas da consolidação, ou
seja, não se formam grandes estruturas de Si-O que possam dificultar o fluxo do
magma já nos estágios iniciais. Essas extensas cadeias de Si-O tendem a ser
destruídas pelo aumento de temperatura e do teor de água, o que diminui a
viscosidade do magma. Assim magmas graníticos, ainda que mais viscosos, podem
ter sua fluidez aumentada quando em altas temperaturas ou quando apresentarem
teores elevados de água. Magmas basálticos, apesar de seus baixos teores de
água, têm no seu reduzido conteúdo em sílica a principal razão para as suas
viscosidades mais baixas.
1.5 Por que há diferentes
magmas?
Magmas apresentam grande variedade nas suas composições, fato
que se espelha na diversidade das rochas ígneas. Magmas diversos são produzidos
em função do tipo de rocha da área-fonte e da taxa de fusão desta rocha.
Contudo, a profundidade em que ocorre a fusão também é um fator importante. que
pode influenciar a composição dos magmas produzidos. Grandes volumes de magmas
basálticos são gerados pela fusão dos peridotitos (rochas constituintes do manto,
formadas por minerais ferromagnesianos, principalmente olivina e piroxênios -
ver figura 6.3) nas regiões abaixo das dorsais mesa oceânicas, mas também abaixo
da crosta continental, no manto superior. Já os magmas graníticos são
associados à fusão de partes profundas da crosta continental, mais enriquecidas
em sílica. Magmas andesíticos são gerados a partir da fusão da crosta oceânica.
Magmas são sempre enriquecidos em sílica e elementos leves (Na, K) em relação à
área-fonte a partir da qual foram gerados. Assim, basaltos são mais ricos em
sílica que peridotitos; andesitos apresentam-se enriquecidos em sílica quando
comparados aos basaltos dos fundos oceânicos; e granitos, que em muitos casos
podem formar se pela fusão parcial de rochas de composição andesítica, são
ainda mais enriquecidos em sílica que estas.
A composição de magmas primários, gerados da fusão parcial
das rochas de sua área-fonte, pode ser modificada de forma considerável por
processos de diferenciação magmática. O mais importante destes processos é o de
cristalização fracionada. A cristalização de um magma em profundidade é um
processo complexo e muito lento. O magma encontra-se a temperaturas elevadas,
quando então todos os seus componentes se encontram dissolvidos no material
fundido. Quando se instala em partes superiores, logo mais frias da crosta,
perde calor para as rochas encaixantes e sua temperatura diminui paulatinamente.
Quando a temperatura atinge um determinado valor crítico, inicia-se a
cristalização e formam se germes cristalinos, minúsculos núcleos de cristais,
que crescerão para constituir os minerais da rocha ígnea.
Os diferentes minerais não cristalizam todos ao mesmo tempo:
alguns se formam primeiro, e só depois que a composição do magma tiver sido modificada
o suficiente pela extração destes é que os outros minerais irão se juntar aos
que já se encontram em processo de cristalização, ou mesmo irão substituí-los
neste processo. A sequência de cristalização resultante depende fundamentalmente
da composição do magma inicial. A sequência ideal de cristalização dos minerais
foi, a princípio, estabelecida para magmas basálticos pelo petrólogo
experimentalista N. L. Bowen em 1928 por meio das Séries de Reação de Bowen,
ilustradas nas figuras 6.9a e b. Teoricamente, é possível obter, a partir de um
magma primário basáltico, toda uma série de rochas ígneas, desde as ultrabásicas
(ou peridotíticas) até as ácidas (ou graníticas), utilizando para tanto processos
de fracionamento do magma basáltico original durante a sua cristalização. É
importante frisar que as Séries de Reação de Bowen representam um modelo
simplificado de um processo natural muito mais complexo. Exemplos da geração de
rochas diversas por meio da cristalização fracionada de um mesmo magma podem
ser observados nos complexos estratiformes onde, a partir de magmas originalmente
basálticos, são gerados peridotitos, ricos em olivina e piroxênios, pelo
acúmulo destes minerais nas partes inferiores da câmara magmática; gabros,
constituídos de plagioclásio cálcico e piroxênios, pela cristalização do magma
basáltico mais ou menos modificado; e anortositos, pelo acúmulo de plagioclásio,
menos denso, no topo da câmara magmática. Exemplos brasileiros de complexos
deste tipo são os maciços máficos-ultramáficos de Niquelândia e Canabrava, em
Goiás.
Outros processos de diferenciação magmática são a mistura de
magmas originalmente diferentes, a imiscibilidade de magmas e, como já mencionado,
a assimilação durante a ascensão do magma de rochas dos condutos magmáticos ou
das rochas encaixantes após o alojamento do magma no sítio de consolidação
final. Na mistura de magmas, magmas de composições distintas podem ter contato
durante a ascensão na crosta e misturar-se em proporções diversas, gerando com posições
intermediárias entre elas. Na imiscibilidade de magmas, durante a evolução de
um volume de magma originalmente homogêneo, podem separar-se frações imiscíveis
(como ocorre entre a água e o óleo), e cristalizar em separado, produzindo
estruturas peculiares nas rochas resultantes. A assimilação de rochas acontece quando
o magma, ao abrir caminho rumo à superfície, "digere" pedaços das
rochas encaixantes, modificando sua composição em função da natureza e do
volume da rocha assimilada.
Texto extraído de: TEIXEIRA, Wilson et al. Decifrando a Terra. 2. ed. São Paulo :
Companhia Editora Nacional, 2009, p. 154-159.
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