Em relação às fases sólidas, os elementos químicos
formam os minerais e os minerais formam as rochas, que constituem as principais
unidades geodinâmicas do manto e da crosta. Alguns elementos ocorrem em teores
particularmente elevados na água do mar ou na atmosfera (H, O, N, Ar). As
rochas terrestres são divididas em três grandes categorias: as rochas ígneas,
como basaltos e granitos, geradas por processos magmáticos, ou seja, pela fusão
de rochas; as rochas sedimentares, formadas pela acumulação de partículas
clásticas ou biogênicas, ou pela precipitação química nos fundos oceânicos e em
outros corpos aquosos; e as rochas metamórficas, produzidas pela transformação
de rochas preexistentes submetidas a elevada temperatura e pressão e, na
maioria dos casos, na presença de água e fluidos carbônicos.
As rochas extraterrestres não podem ser classificadas
exatamente da mesma maneira. Rochas ígneas ocorrem na Lua, muito provavelmente
em Marte e formam alguns tipos de meteoritos (acondritos). Outro tipo de
meteoritos, os chamados condritos, não têm equivalentes terrestres. Os
condritos se formam pela condensação de gases de uma nebulosa solar e por
gotículas de líquidos silicáticos denominadas cândrulos, as quais dão nome a
eles. As transformações metamórficas podem afetar rochas planetárias e
meteoritos.
Reservatório é um termo genérico que se refere a uma grande
porção de rocha (manto, crosta), água (oceano) ou gás (atmosfera), cuja
composição é contrastante em relação à composição dos demais reservatórios. Os
reservatórios podem conter vários componentes, cujas proporções são normalmente
muito diferentes nos vários reservatórios: por exemplo, as rochas ricas em Si
da crosta continental são facilmente distinguíveis das rochas ricas em Mg do
manto. Um reservatório pode apresentar continuidade espacial (p. ex. o oceano)
ou estar fragmentado em várias regiões da Terra (p. ex. porções de crosta
oceânica recicladas no manto inferior). Os elementos químicos mais abundantes
dos principais reservatórios estão listados no Apêndice A. Para se ter uma
noção mais completa da distribuição dos elementos químicos nos reservatórios é
necessário considerarmos os minerais presentes em cada caso (ver capítulo
seguinte). O oxigênio está presente em praticamente todos os reservatórios, ao
passo que o silício está restrito aos silicatos, que são os minerais mais
abundantes da Terra. O teor de silício dos minerais é um parâmetro
particularmente importante porque a concentração de sílica (SiO2) é uma medida
da "acidez" das rochas: este termo obsoleto, que data da época em que
os silicatos eram considerados como sais de ácido silícico, ainda está bastante
presente na literatura. A concentração de sílica é crescente na sequência de
minerais desde olivina, piroxênio, anfibólio e mica até feldspato e quartzo.
Magnésio e ferro são especialmente abundantes em olivina e piroxênio nas rochas
ígneas e em anfibólio e filossilicatos (biotita, clorita e serpentina) nas
rochas metamórficas. Um rocha félsica (ácida), como um granito ou riolito, é
rica em silício e pobre em Mg e Fe; uma rocha máfica, cujo exemplo arquetípico
é o basalto, tem altos teores de Mg e Fe. O cálcio é encontrado em minerais
ígneos como piroxênios e feldspato cálcico (plagioclásio), em carbonatos
sedimentares e em anfibólios metamórficos. O alumínio pode seguir diferentes
trajetórias: nas rochas ígneas se situa, em ordem crescente de pressão, em
plagioclásio, espinélio (óxido) e granada; em rochas sedimentares se concentra
em argilominerais; e nas rochas metamórficas, em macas (biotita, muscovita).
Potássio e sódio estão principalmente concentrados em micas e feldspatos.
Quando uma rocha se funde, alguns elementos participam
mais facilmente da fusão (Na, K, AI, Ca, Si), enquanto outros são mais
refratários (Mg e, em menor grau, Fe). Do mesmo modo, alguns elementos são mais
solúveis em água (Na, K, Ca, Mg) que outros, causando um racionamento
geoquímico durante a erosão e a sedimentação.
Em comparação com a Terra como um todo, o manto tem
composição mais rica em elementos refratários, especialmente em Mg e Cr, e
teores baixos de elementos que participam mais facilmente da fusão, como Na, K,
AI, Ca e Si, o que demonstra um caráter residual do manto em processos de
fusão.
Os principais minerais do manto superior são a olivina
e o piroxênio, que formam o peridotito, sua rocha mais abundante. A crosta
continental, por outro lado, é rica em elementos com menor ponto de fusão
(incorporados principalmente em quartzo, feldspatos e argilominerais), que
refletem um caráter de "fração líquida" da fusão, em contraste com o
manto residual. Os oceanos são, obviamente, enriquecidos em elementos solúveis,
tanto cátions Na, K, Ca) como ânions (CI-, SO42-),
ao passo que os elementos insolúveis e de menor ponto de fusão (Si, AI, Fe) se
acumulam nos sedimentos clásticos (argilominerais).
As composições do Sol, da crosta e do manto terrestres
etc. são fornecidas no Apêndice A. Em alguns casos, a determinação dessas
composições não é uma tarefa simples. Enquanto a análise espectroscópica do Sol
e as análises de meteoritos, da composição da água do mar e dos rios podem ser
feitas diretamente, a determinação da composição da crosta traz consigo a
discussão sobre a natureza da crosta inferior, bem como do manto inferior, do
núcleo e da Terra como um todo. Não obstante, os mecanismos responsáveis pela
formação dos grandes -- mas não diretamente observáveis – reservatórios são
relativamente bem conhecidos, permitindo que suas composições sejam estimadas.
O texto acima foi extraído de: ALBARÈDE, Francis. Geoquímica: uma introdução. São Paulo : Oficina de Textos, 2011.
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